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Mostrando postagens de setembro, 2010

Olhos Parados (Capítulo 8)

8 Já haviam levado o corpo. Tudo ficara muito estranho. A sensação que o Zé Carlos tinha agora era parecida com aquela quando as casas ficavam soterradas debaixo das barreiras. Era aquele frio interior misturado com chuva, lama e tristeza. Outra lembrança que surgia naquele momento era daquele homem que gritava em algumas noites. O Seu Edinho. Um homem bom, mas que às vezes enlouquecia e saía quebrando tudo, urrando e chorando. Seus gritos eram terríveis. Era um lamento longo, desesperado, que entrava feito faca pelos ouvidos do garoto e depois iam se alojar em algum canto escuro da sua alma. Nesses momentos, Dona Eunice punha-se a trabalhar mais e mais, em sua máquina de costura, pedalando, pedalando como se quisesse superar aquele barulho. E sempre chamava o José Carlos para ajudar em alguma coisa. Queria distraí-lo, arrancá-lo daquela dor que explodia pelo morro. O Seu Edinho desapareceu. Os gritos ficaram dormindo lá no interior do garoto. Da mesma forma que a imagem d

Cartas à Poesia (3)

Mesmo quando aqui não estás e as ondas sombrias do mundo nos afogam, sobra uma vaga lembrança que vaga por nossas entranhas, misturada às sombras que passam. Mesmo quando pareces ter partido sufocando para sempre nossas almas, paira no vazio um murmúrio que sopra em nossos sentidos os versos do inverso de tudo. E mesmo o nosso desânimo e a fosca tristeza dos olhos traem outros traços da paisagem que só são visíveis àqueles que em tuas terras tocaram. sylvio 2010

Cartas à Poesia (2)

És o gênio que me acompanha, a gota d'água no deserto que se transforma em rio manso. És o tesouro que se apresenta quando a miséria se faz intensa. E és o Portal do Paraíso quando o Inferno se faz exílio. sylvio 2010

Cartas à Poesia

Entre tantas tempestades fugi para o teu oásis. Visitei teus aposentos em hora em que não estavas. Mas senti o teu perfume em teus rastros pela casa. Pairava em tudo uma calma e a alma da paz sussurrava... Pensei em deixar um bilhete, mas me contive e saí. Daí só levei o silêncio e a brisa que me trouxe a vida. sylvio 2010

A Arte

No silêncio do interdito nasce a arte entre o dito e o não dito longe do desastre muito além do mercado. Em um olhar que se descobre solitário e que encontra o todo em um íntimo detalhe. Uma hora mágica fora da teia dos ponteiros alheia à trama do tempo avessa às trevas dos homens. Nasce a arte asa que atravessa a fenda dos limites ao encontro da claridade. sylvio 2009