Olhos Parados (Capítulo 8)
8 Já haviam levado o corpo. Tudo ficara muito estranho. A sensação que o Zé Carlos tinha agora era parecida com aquela quando as casas ficavam soterradas debaixo das barreiras. Era aquele frio interior misturado com chuva, lama e tristeza. Outra lembrança que surgia naquele momento era daquele homem que gritava em algumas noites. O Seu Edinho. Um homem bom, mas que às vezes enlouquecia e saía quebrando tudo, urrando e chorando. Seus gritos eram terríveis. Era um lamento longo, desesperado, que entrava feito faca pelos ouvidos do garoto e depois iam se alojar em algum canto escuro da sua alma. Nesses momentos, Dona Eunice punha-se a trabalhar mais e mais, em sua máquina de costura, pedalando, pedalando como se quisesse superar aquele barulho. E sempre chamava o José Carlos para ajudar em alguma coisa. Queria distraí-lo, arrancá-lo daquela dor que explodia pelo morro. O Seu Edinho desapareceu. Os gritos ficaram dormindo lá no interior do garoto. Da mesma forma que a imagem d...