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Mostrando postagens de dezembro, 2018

Diário do escritor que não fui - 30 de dezembro de 2018

Domingo. Noite. O escritor que não fui senta à escrivaninha. Lá, fora da janela, o jardim já quase totalmente engolido pela escuridão. Aqui dentro, a luz da tela do computador me convida. Há dias que penso a existência sob um outro ângulo. Não dá mais para colocar panos quentes. Quantas vezes tenho usado as palavras para dar um jeito nas coisas. Tentar equilibrar. Buscar a brecha que nos leve ao voo. Mas agora há uma vontade grande de dar o verdadeiro nome das coisas. O mundo está estranho. Os países são direcionados para caminhos e objetivos cada vez mais distantes do que seria uma vida humanamente feliz e tranquila. Em nosso Brasil, o povo escolheu a bestificação e a violência para comandá-lo. No caminho, de volta para casa, neste início de noite, vi as pessoas entrando e saindo de suas igrejas evangélicas. Estão, em sua grande maioria, dominados, aparvalhados, hipnotizados e controlados pelos pastores e pela algema de seus celulares que lhes mandam constantemente, através da rede so

Diário do escritor que não fui - 27 de dezembro de 2018

Passaram festas. Aniversário, Natal, encerramento no colégio, todos esses ritos. Hoje, uma quinta-feira molhada das chuvas que caíram nos últimos dias. Estou resgatando meus escritos para encaminhá-los a seus objetivos, no próximo ano. Uma peça de teatro e os dois livros unidos que já estão prontos há tanto tempo e precisam ser publicados. A amiga Carla ficou de concluir os trabalhos de diagramação. Prefácios já estão prontos. Logo que estiver concluído procurarei a melhor forma para editar. Já tenho outros dois escritos. Um de poesias e outro de contos. Apesar das péssimas previsões para o país no ano que se inicia, pretendo centrar minha atenção e ação em meus escritos. ... Hoje, de manhã, li a crônica de Clarice Lispector, o que tenho feito quase todos os dias, desde que ganhei da Pita, como presente de aniversário, o livro com todas as crônicas. Depois não resisti e li mais uma página de Ariano Suassuna ("A Pedra do Reino"). Foram os primeiros alimentos do dia. Além, cl

Diário do escritor que não fui - 4 de dezembro de 2018

Hoje muitas coisas passaram em minha cabeça. Memórias do escritor que não fui e do leitor que se foi configurando pela vida, desde os primeiros livros de Lobato, de Malba Tahan, da Ilha do Tesouro, dos livrinhos de bolso e depois, da estante do meu pai. Ali, encontrei obras que me marcaram. Havia uma coleção de biografias que ele comprara no ano em que  nasci: 1954. Sempre repete que o vendedor disse-lhe, à época, que aqueles livros um dia seriam de muita utilidade para o filho dele. E na verdade foram mesmo. Até hoje eu os leio. São biografias de pensadores, de escritores, artistas, homens e mulheres célebres, políticos e tantos outros expoentes da cultura. Neles eu pude tomar contato com a alma universal. Com grandes vidas que passaram pela terra. Fiquei conhecendo a aventura do pensamento e da arte corporificada e vivenciada. Vidas fascinantes que me deixavam extasiado e ao mesmo tempo me instigavam, convidavam-me a grandes voos. Os escritores e os filósofos, especialmente, tocaram

Diário do escritor que não fui - 3 de dezembro de 2018

Segunda-feira nublada e molhada. Nada muito diferente de tantas tardes petropolitanas. Ontem, Pita me disse que não gostava de ouvir esse título: "Diário do escritor que não fui". Disse que achava triste. E disse isso de uma forma terna. Entendo o que ela sente. Talvez exista mesmo esse lado da história. Sempre digo que se houvesse reencarnação eu gostaria de, na próxima vida, poder nascer escritor. Poder ter condições para tal. Dedicar-me exclusivamente. Mas estou aqui "a escrever", "lusitanamente" falando. Às vezes, para alguns, digo que sou um "escrevinhador". O fato é que a vida inteira, a 3 dias de completar 64 anos, continuo relatando de alguma forma, através das palavras, aquelas impressões que vão sendo calcadas em minha alma. Talvez para que elas não sejam re-calcadas, talvez, como já andei dizendo por aí, para dialogar com o mundo. Apesar de isso tudo parecer um monólogo que reluta em se calar. Carrego sempre um caderninho e um lápis no