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Mostrando postagens de maio, 2010

Olhos Parados - Capítulo 6

6 A cena do senador desabando no plenário apareceu em todos os telejornais da noite. Só se falava nisso. No outro dia, de manhã, era a manchete dos principais jornais. Aquele momento do país fez com que o desmaio e a conseqüente ausência das faculdades físicas e mentais do Brito Júnior assumissem a dimensão de uma crise nacional. Uma crise que dependendo do desfecho poderia vir a se tornar uma tragédia. A figura do senador foi se transformando e ganhando contornos de um mito. Rapidamente estabeleceu-se uma rede em todo o país e as mais variadas histórias começaram a se espalhar. Versões fantasiosas sobre as possíveis causas da doença circulavam por todos os cantos. A cada momento, um novo boato. Pressões, tentativas de assassinato por envenenamento, conspiração e tudo que a imaginação ia costurando e entregando ao mercado das especulações. O “mal de Brito” já era o assunto preferido de todas as rodas e reuniões. Já suplantara as discussões de futebol e o comentário das no

À Cayenne (do Azul do Zen)

Alta a lua cheia pedra brilhante da noite lá no espelho dos montes. 6/5/96

Do dia (do Azul do Zen)

Os sons edificando o dia os pios os cantos os risos das crianças a marreta na pedra o martelo no prego a serra elétrica… Fábricas, máquinas. A mãe que chama, a porta que bate. Um avião cruzando o céu do vale e o ônibus ladeira abaixo… Cai a tarde castelo de cartas sobra o sol adormecendo no sem-fim das seis horas. Os sinos do ângelus vão abrindo, pelas catedrais, pelas torres as portas futuras da noite. 1/9/95

Mãe e filho (do Azul do Zen)

A mão da mãe na mão do filho. Encostada, colada na estrada caminhando nos pés do destino: a mãe pobre e seu menino. Lá se vão para o trabalho nos braços da segunda-feira. Meio tristes, meio sorrindo de mãos agarradas na vida tentando de toda maneira. Enquanto a mãe pobre caminha o menino na sua mão é toda a riqueza do mundo e tanta esperança que pulsa. 29/8/95

manhã

Pedaços de sol caem das folhas das árvores lavando a manhã. 6/7/93

Junho

Junho de vento e frio... Palavras surgem na névoa, Os olhos nascem na vidraça. Imagens despertam mistérios e O dia passa em silêncio. A noite vai se aninhando acendendo um fogo de encontro sonhando fumaça de estrelas. Os olhos adormecem na vidraça. Palavras somem na névoa. Junho de vento e frio... 4/6/93

Olhos Parados - Capítulo 5

5 A imagem do Sabão, lá no bar, estava marcada no pensamento do Zé Carlos. Aquele jeito de falar, aquele olhar... Agora ele, já na cama, pegou o livro e foi direto lá pras terras do Simon Bolívar. Por um instante ainda lembrou da Catinha e da mão do Dodô. Levantou, foi até o banheiro, lavou o rosto mais uma vez como se quisesse apagar alguma coisa dentro de si. Já tomara banho, mas parece que só então lavava definitivamente o rosto e com ele certos pensamentos. Era um ser dividido. Um estava no mundo da Catinha, do Dodô, do Chico Defunto, do Léo, do Bem-te-vi; outro estava no planeta do Sabão, junto com as aventuras do Simon Bolívar. Como equilibrar esses mundos? Como aproximar essas realidades? Não, agora não havia jeito. Deixou que uma das partes fosse embora pelo ralo da pia junto com a água que ia sumindo. Olhou-se no espelho e de novo ouviu aquela voz que perguntava e respondia: - O que você quer de mim? - De você, eu quero você! Passou a mão no espelho como se apagasse o própr

Olhos Parados - Capítulo 4

4 À noite, a lua espraiou-se pelo campo e pelo pasto. O morro adormecia, subindo pela curva do caminho, entre as cercas de bambu. O botequim iluminado ia recebendo, um a um, os seus habitantes. Chico Defunto foi o primeiro a chegar, com seu jeito malandro e alegre. Depois veio Bem-te-vi, o gago cantor; o velho Léo; o Ademar; até o Dodô foi se chegando, junto com a Catinha. Sabão entrou e todo mundo estranhou. Afinal, “o sábio” só aparecia no boteco, à tardinha, nunca àquela hora da noite. Sabão tinha esse nome por várias razões. Era o sabe-tudo, ao mesmo tempo em que tinha um gênio sempre pronto a desancar qualquer interlocutor. Vivia dando atestado de ignorante para Deus e o mundo. Mas quando apegava-se a alguém, que lá pelos motivos dele achava que tinha de ajudar, então era só atenção e paciência. Muitas histórias eram contadas a respeito do seu passado, nas mais variadas versões. Ninguém sabia de verdade o que, ou quem havia sido o Sabão, em sua juventude. Diziam que foi importante