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Mostrando postagens de março, 2009

Oceano

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uma onda é água uma onda é uma onda que retorna à água um homem: o todo mas um homem é um homem que retorna ao todo

O Um

Do espelho adolescente o Outro cobrava ao Eu: - De você, eu quero você mesmo! E o Eu ficava preso no espelho da cobrança. Fugia para a aventura da vida mas sempre se deparava com a imagem que lhe cobrava. Algemas, grades, calabouço dos espelhos, solitário exílio do silêncio, areia movediça tragando a vontade, abortando a viagem. Até o dia, muito além de tudo, muito depois da história já distante de tantas batalhas entre o Eu, o Outro e o mundo, até o dia além de tantas mortes já sem Eu, sem Outro e sem mundo quando simplesmente passava e se descobria na luz da flor mágica do todo. Só e unido.

Os dois

Nasceram os dois num mesmo só corpo palco do embate. O Eu e o Outro. Um adormece despertando o outro. Frio e calor entranhados nascidos sob o mesmo signo de gêmeos, divididos.

Outro 2

O Outro é o gêmeo do Eu e o arrasta consigo cego de propósitos, sem sonhos e sem fantasia. O Eu então se esqueceu parece ter sido sempre o Outro com poucas e vagas lembranças de claridade. O Eu evaporou desaconteceu e se foi com as vestes as sombras a cisma e o silêncio-lamento do Outro.

O outro

Quando as nuvens cobrem a luz o escuro faz o laço e a vontade cai no abismo. Quando o frio arrepia em uma nave de náusea e o sol some submerso em trevas. Sossobra o cansaço e o manto negro do nada. Então surge o Outro com suas vestes de noite sem Lua. E com estrelas mortas, pétalas perdidas sem eco nem perfume. O Outro, em sua festa muda feito um vendaval de coisa nenhuma. O Outro é o Triste Sem Causa. Sequer sem a força da tristeza. E o outro se afirma como se sempre fora como se fora o único infinitamente na escuridão dos crepúsculos unidos costurados com os fios do fim. Seguem seus passos arrastados arrastando as horas rotas. Entra na porta do tempo largando em silêncio os relógios, calando os ventos. E lá vai, anjo negro, príncipe da depressão, molambo farrapo de filosofia trapo rasgado sem canção ou vestígio de qualquer poesia.