O CHORO DE KOSOVO

As crianças de Kosovo
perambulam perdidas
nas mudas montanhas
das estradas do medo.
As crianças de Kosovo
perderam seus pais,
seus irmãos,
viram seus amigos explodirem.
E as palavras sumiram
nos olhos assustados da manhã
e nos alvos errados da OTAN.
Lenora calou.
Ramadan viu sua casa em chamas
e quedou
e também calou
e andou a esmo
ao sul de Kosovo, em montanhas de ira.
Jeton
comprando pão
foi agarrado por mãos sérvias
e mandado para a Albânia.
As vilas viraram fogo,
os pais,
corpos em cinzas,
assassinados por nada,
no absurdo dos tempos.
Os corações assim apertados,
já tão cedo feridos.
As mentes em névoa
os pensamentos em fúria.
Lágrimas refugiadas
rolando
em campos minados.
E amputaram dos pequenos rostos
os sorrisos
dos meninos
e das meninas de Kosovo.
Arrancaram a luz.
Extirparam a inocência da paz
com sangue e intolerância.
No último ano do milênio
o homem mancha o futuro
com essa chaga presente:
guerra, cela de estupidez.
Cabe a cada um de nós
abrir as portas da sol
para que, quem sabe, de novo,
voltem a sorrir e pra sempre,
as crianças de Kosovo.

22/6/1999

(Postei este texto que havia escrito
em memória daquelas crianças,
já que o assunto voltou a ser falado
pois um dos carrascos da época
está sendo julgado em Haia)
daquelas crianças

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