Somos todos educadores e políticos.

Somos todos educadores e políticos.

Sylvio Costa Filho
Ator e Professor

Nesse tempo de eleições e debates é bom que se faça uma reflexão no sentido da importância de nossas afirmações e de nossas ações.
Fala-se muito, já é quase que um truísmo dizer que a educação é questão estratégica e condição essencial para que nossa sociedade tenha um real desenvolvimento. Da mesma forma cobra-se dos políticos um desempenho eficaz e, ao mesmo tempo, muitas pessoas, e, às vezes, até mesmo, infelizmente, professores pregam o voto nulo e a indiferença em relação às escolhas que serão feitas em outubro.
E, por outro lado, tanto políticos quanto professores são culpabilizados por não exercerem suas funções a contento e serem os responsáveis pelos péssimos índices apresentados pela educação pública.
Mas e a sociedade? E a participação? Não haverá consolidação de democracia alguma se não houver participação. Ouço pessoas dizerem que já estão cansadas, que desanimaram e que, agora, não pretendem mais votar em ninguém, sendo que muitas delas tinham como exclusiva forma de participação o único ato que era escolher os seus representantes. Abrem mão de uma prerrogativa da cidadania em nome de um ideal de pureza que em muitos casos nem elas realizam em seu cotidiano.
É verdade, são absurdos e descalabros que acompanhamos no noticiário político, só que, hoje, ficamos sabendo e manifestamos a nossa indignação. Antes acontecia, mas ninguém sabia, ou então não podia falar.. O que precisamos é transformar essa insatisfação em ações concretas, em mobilizações, em fiscalização, em prática de cidadania. Simplesmente sair resmungando ou gritando aos quatro ventos que “nenhum deles vale nada”, ou “que são todos corruptos”, será que é uma atitude saudável? Ou se trata apenas de um desabafo e de uma confissão de derrota?
O que assistimos é a cena de uma generalização. A repetição de um lugar comum já repetido à exaustão. Muitas dessas pessoas que manifestam tais opiniões sequer conhecem os candidatos e seus antecedentes. Rotular e nivelar tudo e todos por baixo não vai resolver nada. Mas procurar entender e assumir o nosso papel na construção de uma sociedade melhor, isso sim, é o início de uma mudança. E isso, na certa passa por escolhas corretas, por acompanhamento, fiscalização, cobrança e engajamento nas lutas cotidianas.
Se na política, as coisas não caminharão bem sem a participação da sociedade, muito menos na educação. As famílias precisam resgatar o seu papel de núcleo formador. É preciso acompanhar e valorizar o processo evolutivo e formador dos nossos jovens. Cada adulto, diante dos seus pares é um educador em potencial. Mas também pode ser uma fonte de péssimos exemplos e referências nefastas.
Escola sem a respiração da cultura e da comunidade jamais desempenhará um papel relevante em nossa sociedade. O descaso com os professores e sua consequente desvalorização é um retrato triste de nosso fracasso. Nós todos contribuímos para essa deseducação com a qual convivemos cotidianamente. E aí sim, participamos dela. Com aquelas pequenas corrupções cotidianas que aceitamos como “normais”; com a violência com que nos comportamos no trânsito; com a agressão ao meio ambiente através do consumo desenfreado, do desperdício dos bens finitos da natureza; com o acúmulo do lixo que produzimos diariamente e com tantas poluições que o nosso mercado faz proliferar, com a nossa anuência.
Logo, abster-se de participar nas horas em que se tenta re-encaminhar o processo; ou simplesmente culpar políticos e professores, pelos descaminhos, é, no mínimo, uma atitude perigosa, porque nos omitimos de trazer qualquer contribuição e deixamos tudo ao rés-do-chão, passando por cima, como se a nós nada interessasse. No entanto somos os maiores interessados.

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