Ministério Público investiga mortes e ocultação em Petrópolis (Casa da Morte)

MP investiga a ocultação de cadáveres

Dom, 01 de Maio de 2011 12:00
Imprimir PDF

Área na encosta do Cemitério Municipal teria sido utilizada para o sepultamento de vítimas da repressão política, como indigentes, entre 1970 e 1974. / Alexandre Carius

O Ministério Público Federal em Petrópolis continua investigando a denúncia de ocultação de cadáveres de adversários do regime militar em cemitérios de Petrópolis, feita pelo Grupo Tortura Nunca Mais, que no fim do ano passado esteve em Petrópolis e trouxe à procuradora da República Vanessa Seguezzi informações o imóvel para onde teriam sido levados presos políticos que desapareceram durante o período da ditadura - entre os anos 1970 e 1974. O imóvel onde teriam sido realizadas sessões de tortura ficou conhecido como Casa da Morte, aparelho supostamente montado pelo Centro de Informações do Exército (CIE), com o objetivo de torturar e eliminar líderes da guerrilha urbana, considerados irrecuperáveis.
Levantamento feito no ano passado pela Secretaria de Direitos Humanos, que também investiga o caso, teria apontado grandes coincidências entre as datas de prisão de 17 militantes e as de enterros de corpos em cemitérios de Petrópolis. Os corpos podem ter sido enterrados como indigentes ou com nomes falsos em covas rasas no cemitério da cidade. De acordo com o Ministério Público Federal, dos 17 desaparecidos apontados pela SDH, ao menos dois casos foram afastados por pesquisas posteriores do MPF em Petrópolis. “O MPF continua cumprindo seu dever de apurar, com cautela e independência, a notícia da ocultação de cadáveres de adversários do regime militar em cemitérios da cidade”, frisa a nota do MPF.
Durante oito meses, no ano passado a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) empreendeu buscas por restos mortais de desaparecidos políticos em quatro estados brasileiros. Boa parte das investigações foi concentrada em cemitérios de Petrópolis onde se tem notícia de que por pelo menos quatro anos funcionou a Casa da Morte.
A macabra casa, que fica na região do Caxambu - Centro, teria funcionado como uma central não oficial das Forças Armadas para onde eram levados presos que poderiam ser convertidos em agentes duplos. Chegando lá, no entanto, o destino dos presos era diferente: eles eram mantidos em cárcere privado, torturados e por fim mortos, sem que qualquer rastro fosse deixado. Para tanto seria utilizada a prática macabra de picotar os corpos.
Levantamento feito pela SDH em livros de registros de sepultamentos do Cemitério de Petrópolis entre os anos 70 e 74 teria encontrado nos óbitos coincidências entre datas de prisões de 17 militantes, que combatiam a ditadura militar, e as datas de enterros de corpos ali sepultados. Também teriam chamado atenção dos investigadores, as circunstâncias e causas das mortes (fraturas de crânio, tiros, hemorragias e acidentes - causas que podem estar relacionadas à tortura).
A Casa da Morte foi emprestada ao Exército por um alemão simpatizante da ditadura, que morava ao lado do imóvel e o frequentava. Dali, apenas Inês Etienne Romeu conseguiu escapar com vida, após 96 dias de prisão entre maio e agosto de 71. A localização do imóvel foi possível porque entre as lembranças da sobrevivente ficou registrado o número de telefone da casa. Dentre nove presos vistos por Inês, ou sobre os quais ela teve notícia no período em que esteve na casa, quatro podem ter sido enterrados em covas rasas no cemitério de Petrópolis como indigentes, ou com nomes trocados.
Conseguir comprovar as identidades das vítimas desse período negro da história do Brasil é o maior desafio para o Ministério Público Federal e demais entidades envolvidas nas investigações sobre desaparecidos políticos. Documentos oficiais ajudam pouco. Outro fator que dificulta a reunião de provas é o fato de que ao longo de todos esses anos, ossadas de corpos enterrados em covas rasas nos cemitérios provavelmente já foram retiradas e jogadas em valas comuns - procedimento que acontece, em média, entre três e cinco anos após os sepultamentos.
JAQUELINE RIBEIRO
Redação Tribuna

Tribuna de Petrópolis

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Do blog Democracia & Política: Santos Dumont

Salário do professor no Brasil é o 3º pior do mundo

Joaquins