Antônio Torres, Moacyr Scliar e O Erro Acadêmico

Através da internet muitas pessoas já se manifestam diante desse absurdo que foi o fato da Academia Brasileira de Letras ter preterido, e não preferido, como seria justo, o escritor Antônio Torres. Mas como já afirmou o jornalista Luis Nassif on line, nós, seus leitores e admiradores " já o elegemos há muito tempo". Em outro site, do jornalista e escritor Marcelo Moutinho, aparece também essa indignação que vem muito bem ilustrada, e que eu divulgo aqui, por mostrar o que pensava o próprio Moacyr Scliar a respeito do amigo Antônio Torres. Afinal era a escolha para a vaga deixada por Moacyr, após a sua partida.

E o Merval Pereira virou acadêmico, derrotando Antonio Torres. Pior para a Academia. Como bem disse o amigo Henrique Rodrigues, pelo visto, escritor agora só entra na ABL com sistema de cotas. Meu desagravo ao Antonio vem sob a forma de uma crônica escrita justamente pelo Moacyr Scliar, cuja cadeira na instituição era disputada. Segue o texto, que explicita a gravidade do erro cometido hoje:

"Meu querido Antônio Torres"

Moacyr Scliar

"Em Junco (Bahia), onde nasceu e se criou, Antônio Torres escrevia cartas para os analfabetos moradores da região. Uma ocupação que condicionou, e de forma mais que simbólica, seu destino: escrevendo, Torres se tornou um grande escritor, reconhecido no país e no exterior. Mas é, ao mesmo tempo, um escritor que escreve por aqueles que não podem ou não sabem fazê-lo. É um autor popular, no mais legítimo sentido da palavra. Não é de admirar que obras como Os Homens dos Pés Redondos (1973), Essa Terra (1976) – traduzido pelo menos em 15 idiomas – Carta ao Bispo (1979), Adeus, Velho (1981), Um Táxi para Viena d’Áustria (1991), Meu Querido Canibal (2000) tenham feito sucesso tanto de público quanto de crítica.

Deste sucesso, posso dar um testemunho pessoal. Sou amigo de Torres há muitos anos. Pertencemos à mesma geração literária, a geração que começou a publicar em fins dos anos 60 e começo dos 70, ou seja, no auge da ditadura. Naquela época escrever era uma forma de resistência. Resistência a que Torres engajou-se de maneira admirável. Junto com Ignácio de Loyola Brandão e João Antônio, ele percorreu o país, falando para jovens nos mais remotos lugares. E foi várias vezes para o Exterior.

Nessas viagens, não raro nos encontramos. Era, e é, ocasião para um bate-papo que se continua através do tempo, uma conversa que sempre retomamos. Para mim, com enorme prazer. É impossível não gostar de Torres. Ele é, pessoalmente, o mesmo autor amável e emotivo que encontramos nas páginas de seus livros. É um homem profundamente generoso. E profundamente brasileiro. As platéias estrangeiras sempre o escutam com atenção porque sabem que, através de sua voz, fala o Brasil mais autêntico, o Brasil que também está todo em sua obra. Que também prima pela originalidade. Quem chamaria um canibal de “meu querido”, senão Antônio Torres?

Agora ele está, como já fez muitas vezes, nos visitando. É uma oportunidade de conhecê-lo, e de conhecer as suas obras. Vale a pena. Nas páginas de Antônio Torres o Brasil escreve suas cartas. "

do escritor e jornalista Marcelo Moutinho


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