As Mãos e a Sina

As Mãos e a Sina

Se as mãos que fazem as máquinas funcionarem
calassem os seus movimentos,
Se as mãos que fazem as paredes evoluírem
estancassem seus precisos gestos,
Se as mãos que cavam, que ceifam, que carregam,
as mãos que cortam, que cansam, que suam,
se elas, essas mãos, marcadas e maltratadas,
parassem e pensassem seu destino...
Se essas mesmas mãos se recusassem
a limpar o lixo de outras mãos alheias
que só têm feito esparramar sujeiras...
Se as mãos que entregam todas as manhãs seus pulsos
para a vida encarcerada das algemas,
essas mãos, que ainda e apesar de tudo,
empurram, puxam, levantam, seguram,
dirigem, lavam, descascam,
essas mãos que se penduram
nos ônibus, nos trens, nos caminhões,
nos tanques, nas pias, e que, às vezes,
embalam os filhos de outros
entregando-os para um sono tranquilo
sem ter tempo para embalar os seus
que vão aprendendo a dormir sozinhos,
a sofrer sozinhos...
Ah! se essas mãos se unissem!...
Essas, que são as mãos dos chamados
de "bovinos", de indiferentes, de passivos.
Essas são as mãos dos que à língua dos perversos
são chamados de nordestinos, caipiras,
ignorantes, "povinho"...
Essas são as mãos que sustentam
o mundo dos que as acorrentam
dos que permanecem na bolha
nas "venezas globais"
dos mainardis e dos mervais
e das "vejas" caolhas que só veem o que forjam.
Essas são as mãos que depois de plantar e colher
cozinham, temperam e servem
o banquete dos príncipes
e as quais como gorjeta recebem
as palavras de escárnio e o cuspe dos cínicos.
Ah... se essas mãos por um instante parassem,
pensassem, unissem umas às outras
e resolvessem mudar sua sina...

Sylvio Costa Filho

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