Res Publica
Sylvio Costa Filho
(Ator e Professor)
Ainda alimenta as ações de alguns dos nossos servidores e administradores públicos, o sentimento de posse da “coisa pública”. Tratam dos valores coletivos como se fosse capital individual. Usam o espaço público como quintal privado. E o poder, que deveria ser socializado e distribuído, passa a ser confiscado e usurpado.
Essa cultura feudal, resquício do coronelismo, com tons de autoritarismo e arrogância, é uma das pragas que infectam as administrações e violentam a cidadania.
A educação dos nossos jovens e da população em geral deve levar em consideração esses descaminhos e instrumentalizar a todos nós para que estejamos atentos e vigilantes, não permitindo que o espaço público seja invadido por esses parasitas nefastos. Todos os escalões, todas as instâncias acabam sendo corroídas por esses vermes que só encontram condições favoráveis devido à falta de seriedade e à conivência de uns, à subserviência de outros e à cidadania deficitária da grande maioria.
Com as várias conferências que aconteceram em nosso país, nos últimos anos, e com a participação popular que se vem organizando no caminho de uma sociedade democrática, é inadmissível que ainda sejamos obrigados a conviver com esses rastros de atraso que criam obstáculos e, às vezes, tornam-se verdadeiros muros intransponíveis ao desenvolvimento social e à expansão dos direitos de todos.
Denegrirmos os políticos, generalizando, e esvaziarmos o sentido original da política não é a estratégia que nos poderia levar a um cenário claro e promissor. Tampouco repetir o velho bordão de que todo serviço público é deficiente e que seus funcionários são indolentes e relapsos também só nos levaria a um niilismo e ceticismo paralisantes.
É preciso, sim, exercer o nosso discernimento e levá-lo à prática, por meio da ação cidadã que vigia, cobra e participa, não permitindo que as vaidades e a ganância assumam os postos de comando e que o bem público passe a ser objeto de domínio e poder dos interesses privados.
Não podemos mais aceitar ou permitir que as instituições públicas sejam exemplos de ineficácia ou incompetência, pelo contrário, o seu caráter exemplar deve servir como referencial positivo para toda a sociedade, mas para isso é preciso “abrir os olhos”, “arregaçar as mangas” e caminhar sem perder o foco do objetivo que é a res publica.
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