Diário do escritor que não fui - 30 de dezembro de 2018

Domingo. Noite. O escritor que não fui senta à escrivaninha. Lá, fora da janela, o jardim já quase totalmente engolido pela escuridão. Aqui dentro, a luz da tela do computador me convida. Há dias que penso a existência sob um outro ângulo. Não dá mais para colocar panos quentes. Quantas vezes tenho usado as palavras para dar um jeito nas coisas. Tentar equilibrar. Buscar a brecha que nos leve ao voo. Mas agora há uma vontade grande de dar o verdadeiro nome das coisas. O mundo está estranho. Os países são direcionados para caminhos e objetivos cada vez mais distantes do que seria uma vida humanamente feliz e tranquila. Em nosso Brasil, o povo escolheu a bestificação e a violência para comandá-lo. No caminho, de volta para casa, neste início de noite, vi as pessoas entrando e saindo de suas igrejas evangélicas. Estão, em sua grande maioria, dominados, aparvalhados, hipnotizados e controlados pelos pastores e pela algema de seus celulares que lhes mandam constantemente, através da rede social, as chamadas "fake news". Mentiras, que aproveitando da ignorância, vão inoculando ódio e preconceito. É um projeto macabro de deseducação em massa. Muito difícil de reverter esse quadro patético. Triste, muito triste ver em que foi sendo transformada esta nação. E revoltante saber das forças que estão por trás disso. Nesse perverso teatro de bonecos os que manipulam as cordas são cada vez mais invisíveis. E o povo sendo mais escravizado vítima do medo e da culpa que lhes são incutidos. As instituições não são feitas para defender os direitos e organizar a sociedade, mas sim para garantir os privilégios e perpetuar a exploração. Estamos tendo a prova concreta pelo que acontece em nossos dias. Juízes, em todas as instâncias, revelam-se a cada episódio, diuturnamente, como vassalos e usufruidores do grande capital. Eles têm um claro e definido partido. Mas a maior das tragédias foi mesmo o que foi feito do povo. O pior é a falta de sentido e perspectiva aliada à truculência que se alastrou. Que se mantenham vivos e sóbrios aqueles que não se deixaram levar pelas doenças de um tempo ingrato...

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