Diário do escritor que não fui - 3 de dezembro de 2018

Segunda-feira nublada e molhada. Nada muito diferente de tantas tardes petropolitanas. Ontem, Pita me disse que não gostava de ouvir esse título: "Diário do escritor que não fui". Disse que achava triste. E disse isso de uma forma terna. Entendo o que ela sente. Talvez exista mesmo esse lado da história. Sempre digo que se houvesse reencarnação eu gostaria de, na próxima vida, poder nascer escritor. Poder ter condições para tal. Dedicar-me exclusivamente. Mas estou aqui "a escrever", "lusitanamente" falando. Às vezes, para alguns, digo que sou um "escrevinhador". O fato é que a vida inteira, a 3 dias de completar 64 anos, continuo relatando de alguma forma, através das palavras, aquelas impressões que vão sendo calcadas em minha alma. Talvez para que elas não sejam re-calcadas, talvez, como já andei dizendo por aí, para dialogar com o mundo. Apesar de isso tudo parecer um monólogo que reluta em se calar. Carrego sempre um caderninho e um lápis no bolso. Várias vezes já tive que parar para que não perdesse uma frase, um verso, ou até mesmo uma ideia para um conto, uma poesia ou uma cena de teatro. Parar e, rapidamente, às vezes, furtivamente, sacar do caderninho e do lápis e recolher aquele pássaro, antes que ele se perdesse no infinito das ideias, no mar das palavras. Recolhia o pássaro e o libertava em um voo novo, reinaugurado nas linhas e páginas. Por isso gosto tanto de cadernos de capa dura e lápis 6B. Pita me diz que esse é um lápis para desenho e eu, em segredo, gosto mesmo de desenhar as letras, as letras da música da vida.

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