Chore, Governador! (sobre a paralisação)

CHORE GOVERNADOR
Sylvio Costa Filho
Ator e Professor


Chore governador! Não aquelas lágrimas de pré-sal. Mas chore lágrimas educativas. Lágrimas pelo cotidiano dos professores. Chore pelos cassetetes e pelo spray de pimenta. Chore pelos seus antepassados que já trabalharam como educadores. Chore pelos presídios que cada vez mais terão de ser construídos, enquanto os professores não forem valorizados. Enquanto os educadores continuarem a ser aviltados. Chore pelos profissionais que estão comprometidos verdadeiramente com a educação. Chore pelas promessas não cumpridas. Pelas traições cotidianas. Chore pelas circulares que recebemos em nossas escolas, ameaçando a todos que comparecessem à luta pelos direitos. Chore por eles, porque, segundo informa a “ordem do dia” de sua secretária, eles serão punidos com o corte do ponto. Ficarão prejudicados em suas licenças e em suas aposentadorias. Chore por contribuir para a desunião da classe, através da retaliação que o seu governo promove. Chore por contribuir ainda mais para o atraso de nosso país ao se voltar contra a cidadania com as garras da violência e da falta de diálogo. Chore pelos “dois pesos e duas medidas”. Pois, ainda ontem, governador, foi decretado ponto facultativo, as aulas pararam e todos foram convocados para a grande passeata que pedia a volta dos royalties do petróleo para o Rio de Janeiro. Mas, hoje, quando somos convocados para a luta pelos interesses dos professores e da educação somos considerados contraventores. É, governador, chore muito pela contradição institucional, pela barbárie ditatorial do poder. Chore pelo seu passado que dessa forma vai sendo jogado na lata de lixo da História. Mas saiba, governador, eu e tantos outros continuamos sendo professores. Trabalhando em 3 turnos para conseguir sobreviver. Mas o senhor não chora mais por isso. Saiba que muitos dos que estão sendo punidos fazem parte dos melhores, porque são os que lutam sempre, e como já disse Brecht: “esses são os imprescindíveis”. Conheço professores que estão na luta, participando do movimento há tantos anos porque ainda acreditam em um Brasil melhor, que jamais virá se não mudarem os rumos da educação. E pense governador, em um intervalo entre as lágrimas e a insensibilidade, pense que nós continuaremos. Não iremos esmorecer. Os senhores passam, em sua ânsia de galgar as escalas do poder, mas nós, aqui, vamos construindo a história das nossas conquistas, na luta cotidiana. Damos aulas extras. Inventamos vidas extras. Mas não, não esmorecemos! Talvez isso não seja um motivo tão tocante para fazê-lo chorar. Porém, quem sabe, um dia este país terá melhores cidadãos que produzirão melhores administradores. Ainda continuamos na era das lágrimas petrolíferas. Bem, afinal haverá “muita coisa”! E o Rio de Janeiro só não ganhará a principal das olimpíadas: o mérito educacional, a copa da justiça. Continuaremos vivendo no paradoxo imobilizante: “lute pela cidadania, mas não seja cidadão”; “ensine a reivindicar, mas não reivindique”.
Realmente, este país mudaria se todos os políticos fossem obrigados a matricular seus filhos na escola pública.
Enquanto isso governador, chore. Chore governador! Porque quem sabe um dia todos sairão às ruas, unidos. Professores, estudantes, políticos, administradores, brasileiros. Todos de mãos dadas em nome de uma educação pública de qualidade! Mas por enquanto chore, governador, chore!

Petrópolis, 31 de março de 2010

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