Olhos Parados (Capítulo 1)

Olhos Parados

1

No meio do discurso ele parou. O silêncio então foi grande e pesado. Estranha era a expressão do seu rosto. Uma frase cortada, uma respiração suspensa e alguns segundos que pareceram horas.
Difícil entender. O que lhe acontecera? A veemência e a precisão sempre foram as marcas dos seus discursos. Todos esperavam ansiosamente por aquela fala. E agora o silêncio no meio de uma frase e aquela face indecifrável. A esfinge apoderara-se do homem. Algum elo se partiu dentro dele. O silêncio abissal que se instaurou no plenário deixou um imenso ponto de interrogação pairando. Até que, de repente, como se houvesse sido empurrado por alguma força invisível, ele titubeou e caiu para trás. Um dos funcionários do senado ainda conseguiu correr e chegar a tempo de aliviar um pouco a sua queda, amparando-o para que não batesse com a cabeça no chão.
O silêncio foi quebrado pelas expressões de espanto de todos. Aquela sessão estava sendo transmitida em rede nacional. Todo o país acompanhou os acontecimentos. Mesmo os que não estavam muito interessados despertaram para o que se passava nas tevês e rádios. O tom emocional e sensacionalista apoderou-se do que antes era uma transmissão de conteúdo político.
O homem foi retirado de maca e segundo já se comentava, os médicos ainda não haviam conseguido diagnosticar o que realmente acontecera. Sabia-se que o senador sofrera um mal súbito e fora rapidamente encaminhado para a emergência.

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