Diário do escritor que não fui - 10 de novembro -

Abro uma página nesta tarde de sábado. Um sol tímido ameaça se espalhar, mas as nuvens insistentes não permitem. E o vento nos lembra das chuvas que povoaram todos os dias da semana. Iam e voltavam. O sino de vento não para na pequena sacada. Há dois dias atrás fomos assistir a uma leitura de um premiado escritor alemão na Casa de Stefan Zweig, hoje um museu que promove eventos dedicados à paz, à democracia e ao respeito às diversidades. Foi ali que Zweig, o grande escritor e biógrafo e sua secretária e companheira Lotte passaram seus últimos dias até o suicídio de ambos, na mesma casa, juntos, um ao lado do outro, na cama do casal. A ideia do museu e da preservação da memória foi uma iniciativa do jornalista Alberto Dines que escreveu um livro maravilhoso sobre o duplo suicídio, "Morte no Paraíso". Dines faleceu neste ano, de 2018, em São Paulo, no dia 22 de maio, no Hospital Albert Einstein.
Voltei a ler alguns textos de Zweig. Aqui, nós, mais do que nunca, pelas atuais circunstâncias, conseguimos imaginar o que se passou com ele e sua companheira. Conseguimos entender. As dificuldades e o desânimo de um humanista, sensível, em um mundo bárbaro. Fugindo da guerra, a guerra veio até ele. Não, não existia o Paraíso! Só restava a morte...
Voltando ao escritor que não fui, motivo deste diário, ele surge também por tentar entender o mundo. Porque via dois. Um, que era aquele da proibição, da injustiça, da estupidez, da ditadura. E outro, que se mostrava em grandeza, em equilíbrio, em sonho, em possibilidades infinitas e poesia. Mas o diálogo era difícil, impossível na maioria das vezes, daí a busca de unidade na alquimia do texto.

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