Diário do escritor que não fui - 12 de novembro de 2018

O jovem sentou ao meu lado e, mais que depressa, sacou o celular, baixou a cabeça, "ciscando" sem parar e sem olhos para mais nada. Ao lado dele, outra jovem fazia a mesma coisa e ao lado dela, um homem de meia idade também olhava fixo a telinha do celular. Estamos na fila do ônibus. 12h50m. À nossa frente, do outro lado, um idoso, sentado no banco, frente ao parquinho, permanece, já há minutos, voltado para o celular. Para todos os locais, em todos os pontos, a mesma cena. As expressões semelhantes. A mesma alienação de tudo o mais. Estou voltando do trabalho. Hoje foram seis aulas lutando contra o vício dos alunos por seus joguinhos e suas conversinhas virtuais. Em um dos intervalos, encontrei no corredor um ex-aluno que me disse ter abolido da sua vida todas as redes sociais. Afirmou que estava se sentindo aliviado, como nunca. Mais leve! Verdade, sua expressão estava tranquila, sua humanidade voltara. Ele também disse que estava lendo mais. Livrara-se das algemas, desentranhara-se das redes. Os jovens que estavam no ponto entraram em um ônibus. Outro rapaz chegou com o celular já nas mãos "ciscando"... Começou a ouvir músicas com um volume bem alto. Mudava todo o tempo. Quando a música parava. Eu ouvia os pássaros. Por um instante era uma libertação. Em seguida ele começou a ouvir propagandas de remédios em seu aparelhinho. E assim vai caminhando a humanidade...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Do blog Democracia & Política: Santos Dumont

Joaquins

Salário do professor no Brasil é o 3º pior do mundo