Deputada Luiza Erundina em nome dos ideais

Exemplo de idealismo e de dignidade, a deputada Luiza Erundina faz a diferença nessa farra de oportunismos em que se desvia e cai no atoleiro, a política em nossos dias. Partidos são usados como plataforma de poderes pessoais e não como ferramenta ideológica para mudanças na sociedade em nome do povo e da cidadania. Parabéns à deputada, a cidadania se solidariza com o seu gesto. Infelizmente Luiza Erundina é uma exceção e no entanto a sua atitude é que deveria ser a regra e pautar o comportamento dos políticos de nosso país...bem...mas aí nós viveríamos em um outro mundo. Mas é para esse outro mundo existir que atitudes como a da deputada ainda sobrevivem e lutam para a sobrevivência dos ideais, da justiça e da vergonha na cara. Partidos virarem, como ela mesma falou, "barrigas de aluguel", acaba gerando monstros que pertencem a uma espécie que nós, vitimados por uma ditadura que tanto mal nos causou, não podemos admitir como sendo nossos "aliados". Abaixo copio na íntegra a matéria da folha de São Paulo de hoje, 27 de fevereiro de 2011.

Isolada, ex-prefeita Luiza Erundina ameaça deixar o PSB

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BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

A possível chegada do prefeito Gilberto Kassab, que prepara a saída do DEM, ameaça provocar uma baixa histórica no PSB. Desiludida, a deputada Luiza Erundina (SP) promete deixar o partido se o flerte for consumado.

Ela anunciou a decisão à Folha na noite de anteontem. Em tom de desabafo, acusou a direção da sigla de desprezar os ideais socialistas ao negociar a filiação de Kassab, que planeja levar aliados como o vice-governador Guilherme Afif (DEM).

Alessandro Shinoda/Folhapress
Desiludida, a deputada Luiza Erundina (SP) promete deixar o PSB se for confirmado que Kassab irá para o partido
Desiludida, a deputada Luiza Erundina (SP) promete deixar o PSB se for confirmado que Kassab irá para o partido

"Eles representam forças claramente conservadoras, de direita. Se forem aceitos, não terei mais espaço no partido. Não terei razão para estar nele", afirmou Erundina.

Aos 76 anos, a primeira mulher a governar a capital paulista (1989-92) não poupou adjetivos para atacar a aproximação: "absurda", "inconsequente", "incoerente". Prometeu lutar "até o fim", mas admitiu ter poucas chances de brecá-la.

"Já estou isolada no partido há muito tempo. Se isso acontecer mesmo, não vou mais respirar politicamente no PSB", sentenciou.

"Não digo que serei um incômodo para eles porque não estarei mais lá. Se for o preço a pagar, não tem importância. Não vou transigir com o que acredito."

Filiada ao PSB desde 1997, Erundina disse que a negociação ameaça rebaixar os socialistas ao papel de linha auxiliar do ex-presidenciável José Serra (PSDB) na disputa com outro tucano, o governador Geraldo Alckmin.

"O PSB não pode ser barriga de aluguel. Kassab é o plano de Serra para derrotar Alckmin. É um pedaço do PSDB tentando derrubar outro pedaço do PSDB."

Para ela, os personagens em jogo são "absolutamente incompatíveis" com a história do PSB e não podem militar num partido que "tem o S de socialista no nome".

"Se admitir isso, o partido vai passar da esquerda para a direita. O DEM sustentou a ditadura militar, que nos impôs tortura, exílio e desaparecimentos. É uma mistura que a química não admite."

A ex-prefeita também criticou a aposta em candidatos sem identificação com o partido, como o recém-eleito deputado Romário (PSB-RJ).

"Está havendo uma frouxidão além do razoável. Isso não é crescimento, é inchaço. Inchaço é doença, e essa doença vai matar a identidade do partido."

Reeleita para o quarto mandato com 214 mil votos, Erundina mantém a força nas urnas, mas sofre derrotas em série na legenda.

Em 2008, foi impedida de se candidatar a vice na chapa de Marta Suplicy (PT) a prefeita. No ano passado, não impediu o PSB de bancar a candidatura ao governo paulista do empresário Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

No último revés, foi obrigada a engolir a adesão do presidente regional do partido, Márcio França, ao secretariado de Alckmin. "Ele decide tudo sozinho. Não faz consultas, não comunica nada a ninguém. Age como se fosse o dono do PSB."

Apesar do pessimismo, Erundina ainda sonha em convencer o presidente nacional do partido, o governador pernambucano Eduardo Campos, a interromper a negociação com Kassab.

Ela evitou antecipar os próximos passos em caso de nova derrota. "Se for para disputar pelo poder pelo poder, poderia estar no PT, que é um partido maior e que ajudei a fundar", disse.

"Essas coisas não me motivam a permanecer na política. Não preciso disso, não tenho nada a ver com isso."

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